28 de fevereiro é Dia Mundial de Combate às LER/DORT
Basta de exploração, adoecimento e ataques!
Dor intensa, incapacitação para o trabalho e até mesmo para atividades domésticas e de autocuidado, discriminação, depressão. Essas são algumas das consequências das LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos e Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho), um dos principais problemas de saúde que afeta os trabalhadores no Brasil e no mundo.
Neste dia 28 de fevereiro, Dia Internacional de Combate às LER/DORT, é preciso denunciar as condições de trabalho impostas pelo capitalismo que a cada ano fazem mais vítimas com essas lesões na classe trabalhadora.
Dados subnotificados
A subnotificação e a carência de estudos dificultam a obtenção de números atualizados da situação. A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE, mostrou que, em 2013, mais de 3,5 milhões de trabalhadores disseram ter diagnóstico de LER/DORT.
De acordo com o estudo “Saúde Brasil 2018”, do Ministério da Saúde, num período de 10 anos, houve um aumento de 184% no número de registros de novos casos, passando de 3.212 casos, em 2007, para 9.122, em 2016.
O estudo identificou que as profissões mais atingidas pelo conjunto de sintomas são profissionais que atuam nos setores da indústria, comércio, alimentação, transporte e serviços domésticos/limpeza. Dentre estas, os profissionais que mais se destacaram com número de casos foram os faxineiros, operadores de máquinas fixas, alimentadores de linhas de produção e cozinheiros. Ainda de acordo com o levantamento, esses problemas foram mais recorrentes entre as mulheres (51,7%).
Com o surgimento da pandemia, que intensificou inclusive práticas como o home-office, especialistas avaliam que o quadro se agravou, já que a maioria das empresas não garantiram condições adequadas de trabalho, sem falar do aumento da sobrecarga de trabalho, pressão por metas e assédio.
Superexploração e sofrimento
As LER/DORT são o desgaste do sistema musculoesquelético e decorrem da intensificação do trabalho, cujas atividades exigem a execução de movimentos repetitivos, associados muitas vezes a esforços físicos e manutenção de determinada postura por tempo prolongado.
Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas, de aparecimento quase sempre em estágio avançado, que ocorrem geralmente nos membros superiores, tais como dor, sensação de peso, formigamento, fisgadas, fraqueza muscular e fadiga. Algumas das principais são as lesões no ombro e as inflamações em articulações, como nos punhos, cotovelos, região cervical e lombar e nos tecidos que cobrem os tendões.
Costumam evoluir de forma lenta para quadros crônicos e nem sempre são percebidas precocemente pelos trabalhadores, que retardam a procura por auxílio com receio de repercussões negativas na empresa. O quadro é ainda agravado por situações de discriminação e assédio moral, que causam sofrimento e transtornos mentais, com grande impacto nas vidas dos trabalhadores e de suas famílias.
A dor e o sofrimento têm suas causas: excesso e ritmo acelerado de trabalho, condições insalubres e inadequadas, pressão e assédio psicológico, redução de direitos e das leis de defesa da saúde do trabalhador. Ataques para garantir lucros à qualquer custo e que têm levado a uma precarização das condições de trabalho cada vez maior e resultado no adoecimento dos trabalhadores no Brasil e no mundo.
Desmonte dos direitos
Os governos também têm responsabilidade para esse quadro, ao impor dificuldades para o trabalhador se afastar e para o reconhecimento do nexo causal da doença, o sucateamento do INSS, a Reforma Trabalhista, a ampliação da lei das terceirizações, entre outras medidas, que representam ataques à saúde e segurança dos trabalhadores.
O integrante do Setorial de Saúde do Trabalhador Joaquim Aristeu destaca que o governo de Bolsonaro, com sua política contra os trabalhadores e anti-direitos, deu início a uma devassa nas NRs (Normas Regulamentadoras) que tratam de regras e critérios a serem garantidos pelas empresas para garantir a saúde e segurança dos trabalhadores.
Uma das normas alteradas é a NR 17, que trata sobre a situação de ergonomia nas empresas e que tem relação direta com casos de LER/DORT. Sob a justificativa de “simplificar e desburocratizar”, na prática, o governo reduziu as exigências na análise ergonômica. Foi criada uma etapa preliminar e a AET (Análise Ergonômica do Trabalho) mais aprofundada ficou restrita a algumas situações previstas na norma.
O metalúrgico Jordano de Carvalho, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São João Del Rei (MG) e também integrante do Setorial de Saúde do Trabalhador, ressalta que o número de trabalhadores (as) lesionados aumenta a cada ano, vítimas da ganância dos patrões e descaso dos governos.
“Por isso, é fundamental que as entidades sindicais tenham seus departamentos de saúde do trabalhador (a); os dirigentes e ativistas devem ser preparados para orientar os trabalhadores nos ambientes de trabalho; as CIPAS devem ser classistas e combativas e a defesa da saúde e segurança no trabalho, contra os ataques aos direitos e por melhorias, devem ser garantidas com organização e luta”, afirmou.
Basta exploração, adoecimento e ataques!
Com informações: Ministério da Saúde, Fundacentro, Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho e Renast
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