Embraer para os brasileiros

Confira entrevista sobre a luta pela reestatização da Embraer


Herbert Claros em protesto pela reestatização
Herbert Claros em protesto pela reestatização - Foto: Roosevelt Cássio

Dois meses depois do fim do acordo com a Boeing, a Embraer anunciou a abertura de um PDV (Plano de Demissão Voluntária) através do qual pretende demitir trabalhadores no Brasil. Na semana passada (7), um ato em frente à matriz da empresa em São José dos Campos denunciou o ataque e defendeu a reestatização da fabricante de aviões.

A direção da Embraer não informou o número de cortes que pretende atingir, mas a ameaça de demissão em massa e o clima de insegurança pairam entre os trabalhadores, principalmente após o fracasso da negociação com a Boeing e das medidas temerárias tomadas pelo Conselho Administrativo para a quase venda, que resultaram em prejuízos.

“A Embraer irá receber um empréstimo de mais de R$ 3 bilhões, sendo o maior aporte pelo BNDES. Será mais um socorro de dinheiro público que a empresa recebe mesmo depois da privatização. Ainda assim, estamos sob o risco de demissões em massa. Essa situação não pode continuar”, afirmou o funcionário da Embraer e dirigente sindical Herbert Claros.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José, filiado à CSP-Conlutas, defende a reestatização 100% da Embraer, sob controle dos trabalhadores. “É a única forma de devolver a Embraer às mãos do povo brasileiro e assim garantir a defesa dos milhares de empregos diretos e indiretos do setor aeronáutico, bem como a capacidade tecnológica e a soberania do país”, afirmou.

Confira entrevista com o dirigente metalúrgico que falou sobre a situação da fabricante de aviões brasileira e sobre a necessidade da reestatização da empresa:

1 – Como a notícia da abertura de um PDV em meio a esse momento de pandemia repercutiu entre os trabalhadores?

O clima é de muita apreensão. Não apenas em razão da situação crítica do setor de aviação mundial em razão da pandemia, mas o fato é que a direção da Embraer é responsável por medidas temerárias, que só visam garantir lucros a qualquer custo aos acionistas, em sua maioria fundos estrangeiros, e são prejudiciais à própria empresa. E os trabalhadores sabem que a prática da Embraer é usar demissões para cobrir rombos provocados pela própria direção.

Em 2009, por exemplo, a Embraer demitiu em massa porque perdeu dinheiro na Bolsa de Valores. Em 2016, ao ser multada em US$ 200 milhões pelo órgão de controle do mercado mobiliário dos Estados Unidos por prática de corrupção, a Embraer instituiu um PDV que cortou 1.550 postos de trabalho. Agora, a história se repete com a abertura desse PDV, com incentivos irrisórios, após o fracasso da venda para a Boeing.

2 – Como ficou a situação da Embraer após a desistência da Boeing em comprar a área comercial da empresa?

Por dois anos, a direção da Embraer tratou as negociações com a Boeing como um negócio certo e tomou diversas medidas no sentido de preparar a empresa para a entrega à norte-americana.

Acontece que o processo de venda para a Boeing gerou custos pelo “esquartejamento” das plantas fabris da Embraer, divididas para entregar a aviação comercial para a norte-americana. Os custos tributários da transferência também foram suportados pela brasileira, que apresentou um prejuízo líquido de R$ 1,28 bilhão no primeiro trimestre deste ano.

Outro aspecto é que nestes dois anos de negociação houve na prática uma “espionagem autorizada” pela Boeing junto ao centro de pesquisa e desenvolvimento da Embraer. A Boeing teve acesso a informações vitais sobre itens críticos relativos aos processos de produção, além de ameaçar a soberania nacional na área de defesa, pela entrega de protocolos de produção do cargueiro militar KC-390. Além disso, houve praticamente uma paralisação nos projetos da Embraer e nada foi criado para o próximo período.

Vale lembrar que a venda para a Boeing, como alertou o Sindicato e vários especialistas desde que começaram as tratativas para o negócio, teria sido a destruição definitiva da empresa brasileira.

Afinal, a norte-americana iria ficar com o setor mais lucrativo e estratégico comercialmente da Embraer. Teria significado a desnacionalização completa da brasileira e a sua transformação em curto prazo numa mera montadora de componentes, sem contar, o corte de milhares de postos de trabalho, como a Boeing fez em outras aquisições.

Em resumo, a quase venda da Embraer comprova que nas mãos do setor privado, composto por acionistas estrangeiros, formados principalmente por fundos de investimentos e grandes bancos, os milhares de empregos existentes na empresa e na cadeia produtiva do setor aeronáutico, e a própria existência da Embraer sempre estarão ameaçados em nome do lucro e da subordinação aos interesses imperialistas que monopolizam o setor.

3 – Quais as alternativas existem para a Embraer no mercado de aviação mundial?

Este é um mercado extremamente competitivo e monopolizado, que é controlado basicamente pelas duas grandes empresas do setor: a europeia Airbus e a própria Boeing. Há também novos concorrentes de peso como a chinesa Comac e a russa UAC.

A Embraer, que foi criada com o trabalho de engenheiros e milhares de trabalhadores brasileiros ao longo dos anos e sempre foi financiada pelo dinheiro público mesmo depois que foi privatizada em 1994, se tornou a terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo. Possui excelência tecnológica, mão de obra especializada, enfim, tem potencial para seguir cumprindo um papel estratégico, seja para o desenvolvimento tecnológico do país, geração de empregos e para a soberania.

Contudo, como dissemos, nas mãos do setor privado que só pensa em lucro e não tem compromisso com os interesses do povo brasileiro, o seu futuro está ameaçado. Eles não pensaram duas vezes para colocar em risco a existência da Embraer como a única fabricante brasileira de aviões.

E, ao contrário, do que os defensores de sua venda alegam, o futuro da Embraer não é sua entrega e desnacionalização para o imperialismo. É o inverso.

É preciso que o governo brasileiro retome a empresa e explore todas as possibilidades da Embraer, seja no setor de aviação comercial, de Defesa, executivo, assim como diversifique sua produção, com mais desenvolvimento tecnológico e integração com outros ramos industriais.

4 – Por que a reestatização é necessária?

Pois é a única forma de que os rumos da empresa sejam ditados pelos interesses nacionais e do povo brasileiro.

Mesmo depois de privatizada a Embraer seguiu sendo financiada pelo dinheiro público. Foram cerca de 100 bilhões em financiamentos via o BNDES desde 1994.

Em todo o mundo, as demais empresas do setor são controladas e recebem aportes gigantescos do poder público. Para competir nesse mercado, a Embraer precisa funcionar da mesma forma.

Mas não dá para ficar dando dinheiro público para acionista privado ficar lucrando, para depois demitir e impor prejuízos como faz a atual direção da Embraer.

Se depender de Paulo Guedes, Bolsonaro e Mourão é isso que vão fazer: socorrer a empresa com os cofres públicos e depois entregá-la saneada para alguma outra grande multinacional do setor. Obama fez isso com a GM após a crise de 2008.

A Embraer tem de voltar às mãos do povo brasileiro. Ser reestatizada 100%, sob controle dos trabalhadores.

5 – Por que o Sindicato defende a reestatização, mas destaca que precisa ser sob controle dos trabalhadores?

A Embraer foi privatizada em 1994 sob o famoso discurso neoliberal da suposta eficiência do setor privado, que supostamente também seria imune à corrupção. Aliás, o discurso de que empresas públicas e estatais são antros de corrupção é um dos mais usados para defender privatizações.

Mas isso é uma enganação. Os últimos fatos da política nacional demonstram que as empreiteiras, por exemplo, grandes empresas e até multinacionais privadas, corromperam e se beneficiam de grandes esquemas de corrupção.

A própria Embraer, em 2016, admitiu práticas ilegais com pagamento de propina e foi multada pelos EUA, jogando depois o custo de suas trapaças com demissões de trabalhadores.

A tal eficiência do setor privado também é uma falácia. Em relação à Embraer mesmo, todos os grandes projetos da empresa foram elaborados quando ainda era estatal, o dinheiro público sempre foi sustentáculo da empresa, mesmo depois de privatizada.

A reestatização da Embraer sob o controle dos trabalhadores é a forma de garantir uma empresa voltada aos interesses nacionais. Os funcionários da empresa é que conhecem todo o processo produtivo, desde os projetos até a concretização da produção do avião. Sabem o que funciona, o que fazer para evitar desperdícios, garantir mais eficiência, enfim. Com uma administração democrática, são os únicos capazes de defender os empregos, impedir a corrupção e buscar o desenvolvimento tecnológico em prol dos interesses do povo brasileiro.

6 – Como está a campanha lançada pelo Sindicato pela reestatização da Embraer?

Estamos com uma campanha pela reestatização e em defesa dos empregos. E uma está ligada a outra. Como dissemos, os empregos e o futuro da Embraer só podem ser garantidos quando a empresa voltar às mãos do povo brasileiro.

Há o manifesto pela reestatização que já conta com mais de uma centena de adesões de entidades, partidos, personalidades, juristas e segue aberto a mais assinaturas. Queremos o apoio de todos os que defendem uma Embraer estatal, a serviço do povo brasileiro e do desenvolvimento do país.

Além disso, já foi protocolado na Câmara dos Deputados um projeto de lei pela reestatização da Embraer, que é resultado de uma articulação do Sindicato juntamente com o deputado Orlando Silva (PCdoB). O projeto tem a coautoria de 54 deputados. O Sindicato pediu ainda na Justiça o afastamento do Conselho Administrativo da Embraer responsável pelos prejuízos impostos à empresa e que querem repassar aos trabalhadores.

Acima de tudo, já está em curso e será intensificada a campanha junto aos trabalhadores, os maiores interessados e envolvidos nessa discussão, para explicar a importância e necessidade da reestatização. Somente a luta da classe trabalhadora pode conquistar a reestatização da Embraer. Essa é a nossa luta.

Entrevista publicada no site da CSP-Conlutas


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