Audiência Pública

Venda da Embraer representa risco para o Brasil, dizem especialistas

Estudiosos mostram por que a empresa não pode ser entregue à Boeing


O futuro de toda indústria aeronáutica nacional será colocado em risco caso a venda da Embraer para a Boeing seja concretizada. Estudiosos do setor e representantes dos Ministério Público do Trabalho (MPT) posicionaram-se contra a entrega da Embraer, em Audiência Pública ocorrida na segunda-feira (20), na Câmara Municipal de São José dos Campos.

O evento foi convocado pelo MPT e Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, como forma de envolver a população nas discussões de um tema que afeta toda a sociedade. Cerca de 200 pessoas participaram da audiência, mas algumas ausências chamaram a atenção. Apesar de terem sido convidados, Embraer e Boeing não enviaram representantes. O prefeito Felicio Ramuth e o presidente da Câmara, Juvenil Silvério, ambos do PSDB, também preferiram fugir do debate.

Boeing e Embraer anunciaram, no dia 5 de julho, um memorando de entendimento para a formação de uma joint-venture (parceria), em que a gigante norte-americana terá o controle de 80% de uma nova empresa a ser criada. Este termo, entretanto, foi questionado pelos integrantes da mesa da audiência.

Para o procurador federal do Trabalho Rafael de Araújo Gomes, em Araraquara, o tipo de negociação que está em andamento não é uma joint-venture. O acordo previsto determina que a Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa e que responderá diretamente ao presidente mundial da norte-americana.

“Todo o controle dessa nova empresa que vai explorar a aviação comercial fica com a Boeing. Estamos falando de 100% da gestão pela Boeing e 0% de papel da Embraer na gestão. Numa parceria, junta-se expertise. Os parceiros se unem, desenvolvem e gerem juntos os negócios. Não é isso que as empresas estão anunciando”, afirmou.

Nas últimas décadas, a Embraer se especializou em produzir aviões de 150 lugares. Já a Boeing, que se retirou dessa atividade há décadas, ficará com 100% da gestão. Se forem tomadas decisões erradas, a Embraer não terá espaço para corrigir esses erros, porque terá 0% de gestão.

Empregos
A possibilidade real de perda de empregos provocada pela venda para a Boeing foi duramente criticada na audiência. O próprio Ministério Público do Trabalho já notificou o governo federal para que condicionasse a venda à garantia de empregos. A resposta do governo Temer foi motivo de grande preocupação, já que se manifestou claramente que não cobrará essa garantia.

“Estamos falando de extinção para sempre de empregos no Brasil, estamos falando de mais de 26 mil empregos, de R$ 3,3 bilhões por ano de folha de pagamento. A maior parte dos empregos está em São José dos Campos. Qual será o significado disso para esta cidade?”, questionou o procurador.

Segundo ele, desde a privatização, a Embraer foi beneficiada com mais de R$ 100 bilhões em dinheiro público. Somente o BNDES liberou R$ 85 bilhões em financiamentos, de 2001 a 2016. “Foi dinheiro do contribuinte que viabilizou o sucesso da Embraer, e agora ela está sendo vendida por uma ínfima parte desse dinheiro”. A Boeing pretende pagar apenas R$ 3,8 bilhões pela Embraer.

Sem crise
O diretor do Sindicato e trabalhador da Embraer Herbert Claros ressaltou que, ao contrário do que muitos pensam, a empresa não está em crise.

“Ontem (dia 19), a Embraer completou 49 anos e vive um de seus melhores momentos, como já disse o próprio presidente da empresa. Então, por que estão querendo vendê-la? Por um único motivo: para atender aos interesses dos donos da Embraer. Mais de 70% das ações são de estrangeiros. A empresa está sendo vendida para atender bancos americanos”, afirmou.

Herbert também trouxe para a audiência uma informação divulgada pela imprensa norte-americana. Em entrevista, o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, afirmou que a empresa brasileira poderá contribuir para o fornecimento de trens de pouso e interiores de um novo avião planejado pela Boeing, o MMA. Traduzindo: a Embraer vai se resumir a uma fabricante de peças.

A procuradora do Trabalho Ana Farias Hirano demonstrou grande preocupação em relação ao fechamento de postos de trabalho. “Estamos falando de milhares de empregos diretos e indiretos da cadeia de fornecedores. São mais de 26 mil postos, mas este número não reflete a realidade porque não reflete todos os empregos que existem na cidade em razão dessa massa salarial”, afirmou.

E alertou: “a Boeing e Embraer já anunciaram que a nova empresa será sediada no Brasil, mas isso não significa nada se não forem dadas garantias sólidas”.

Estudos confirmam riscos
A transação entre Boeing e Embraer é objeto de estudos dos professores Marcos Barbieri, da Unicamp, e Roberto Bernardes, da Faculdade de Engenharia Industrial da USP. Os dois apresentaram fatos e números que comprovam o quanto a venda será prejudicial ao Brasil.

“Todos os grandes conglomerados de aviação e defesa (como é o caso da Embraer) possuem controle nacional. É Imprescindível a parceria com o estado”, disse Barbieri, mostrando o quanto é inaceitável deixar a Embraer sob controle da Boeing.

O governo brasileiro não terá qualquer controle sobre a nova empresa formada a partir da joint-venture.
Segundo Barbieri, cerca de 70 empresas compõem a cadeia de fornecedores que têm elevado grau de dependência da Embraer. “Estamos discutindo não sobre uma empresa, mas sobre a indústria aeronáutica
brasileira”.

Barbieri aponta pontos questionáveis no memorando divulgado pela Boeing e Embraer. O documento insinua que a Embraer não tem competitividade para enfrentar a concorrência internacional nem como absorver novas tecnologias.

“Temos uma empresa de produção de jatos e aviões invejada no mundo. Os japoneses, coreanos, chineses não possuem uma empresa como a Embraer no segmento em que atua. É essa empresa que está sendo colocada em jogo com pouquíssima discussão. Esta é uma indústria de elevada complexidade tecnológica”, afirmou Barbieri.

“Há um desmonte da Embraer. Se o memorando for implementado, a Embraer como a conhecemos deixa de existir. Duvido que o E3 (família de jatos) vá ser desenvolvido no Brasil, ainda mais sem garantia”.

O professor Roberto Bernardes também concorda que o acordo proposto não é uma joint-venture. “O que estamos vendo é uma transferência de controle acionário”. Para ele, o que está em jogo é a soberania e o futuro do Brasil em termos de ciência e tecnologia. “A ciência e tecnologia não sobrevivem sem a Embraer”, alertou.

 

Confira a audiência na íntegra:

 

 

 

 

 

 


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