Pesquisa mostra que 85,8% dos chilenos apoiam protestos e 83,9% desejam mudar Constituição
Reivindicações prioritárias da população estão relacionadas às aposentadorias, saúde e educação
“Não voltaremos à normalidade porque a normalidade era o problema.” A frase, estampada em cartazes nas manifestações que tomam as ruas do Chile há três semanas, está refletida nos resultados de uma pesquisa recém-publicada pela Universidade do Chile, que mostra que 85,8% da população apoiam os protestos e 83,9% concordam com que sejam feitas mudanças na atual Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
O levantamento ouviu 1.033 pessoas entre 29 de outubro e 1º de novembro, com margem de erro de 3,1%, e faz parte do relatório Termômetro Social, feito por centros de pesquisas ligados à Faculdade de Economia e Negócios da universidade. Ele evidencia o alto grau de desconfiança dos chilenos em relação a políticos e partidos de todo o espectro político. Mais de 80% dos entrevistados acreditam que a maneira mais adequada de destravar o conflito social seja discutir diretamente com a população as propostas de mudança ou submetê-las a um plebiscito.
Iniciadas por estudantes secundaristas que protestavam contra um aumento de 30 pesos (R$ 0,17) no preço da passagem do metrô de Santiago, as manifestações passaram a ter como alvo o alto custo dos serviços de educação e saúde e as baixas aposentadorias. Surtos de incêndios criminosos e saques levaram o presidente Sebastián Piñera a declarar estado de emergência e a pôr os militares nas ruas pela primeira vez em 30 anos, o que engrossou ainda mais os protestos.
A pesquisa da Universidade do Chile confirma que as reivindicações prioritárias da população estão relacionadas às aposentadorias e pensões, à saúde e à educação. Todos esses setores foram em grande parte privatizados durante a ditadura, embora reformas posteriores tenham aumentado a participação do setor público nos dois últimos.
“Os cidadãos querem ser escutados. Mudanças em temas como aposentadoria, saúde e educação são importantes, mas o estudo indica que as pessoas querem debater e discutir, construindo a partir daí um novo Chile”, disse ao GLOBO Fabián Duarte, um dos coordenadores do estudo. “Há uma dicotomia: eles querem mudanças em curto prazo, claro, mas também querem mudanças mais profundas”.
Ao mesmo tempo em que querem ser ouvidos, no entanto, os chilenos sentem que não têm um interlocutor confiável. Numa escala de 1 a 10, a população confia pouco nos partidos (2,4), nos parlamentares (2,5), nos ministros (2,6), no presidente (2,8) e nos empresários (3,2). As instituições que têm maior pontuação são os bombeiros (9,3), voluntários e ONGs (7,2) e associações de moradores (6,3). As Forças Armadas ficaram com 3,7.
Economia desacelera
Os números ajudam a explicar por quê, ainda que tenha anunciado medidas de alívio para os aposentados e os mais pobres, a popularidade de Piñera tenha caído 21 pontos desde o início dos protestos, chegando a 13%, segundo uma outra sondagem divulgada no domingo, do Instituto Candem. É a pior taxa para um presidente desde a redemocratização do Chile.
“A baixa nota do presidente é comum a todas as faixas etárias. Mas a pouca confiança no sistema político é algo que acontece há muito tempo. Menos de 50% da população foram às urnas na última eleição, em 2017, porque a crise social não se via refletida na discussão política”, afirmou Duarte.
A pesquisa da Universidade do Chile mostra ainda que 55,6% da população participaram dos protestos. Destes, 61% estiveram em alguma marcha, e mais de 70% aderiram a panelaços. Na segunda-feira, houve novas marchas e um panelaço nacional havia sido convocado.
Fonte: O Globo
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