Os metalúrgicos que fizeram história com a greve na General Motors em 1985 voltaram a se encontrar nesta quinta-feira, dia 21, na sede do Sindicato, para comemorar os 30 anos dessa importante luta que deixou marcas em nossa cidade. Mais de 150 pessoas participaram do ato, dentre ativistas e diretores sindicais atuais e daquela época.
Os protagonistas da greve Edemir de Paula, o Passarinho, Ediberto Bernardo Santos, o Hiena, Ivo Soares Ferreira, da comissão de fábrica, e os ex-dirigentes do Sindicato Toninho Ferreira e Josias de Melo se emocionaram ao lembrar da tensão e força daqueles 28 dias de paralisação (de 11 de abril a 8 de maio de 1985) e ocupação.
O sociólogo do Sindicato àquela época, Moacyr Pinto, autor do livro “Ação e Razão dos Trabalhadores da GM em São José dos Campos”, fez uma análise sobre a importância da greve para a cidade e para os trabalhadores do país.
Para ele, a greve de 85 na GM só foi possível graças ao sindicalismo classista que naquele momento surgia na cidade e que combatia o capitalismo de forma organizada, com comissões de fábrica, formação ideológica e articulação com os movimentos sociais. Isso tornou possível organizar uma greve longa e com ocupação, que enfrentou a recusa da montadora em negociar e a repressão militar, que tratou a mobilização como ato criminoso.
Repressão
A presença de agentes militares dentro da GM e de outras fábricas da região já foi comprovada pela Comissão da Verdade do Sindicato por meio de documentos do Cecose (Centro Comunitário de Segurança do Vale do Paraíba) e do testemunho de ex-funcionários da chefia da montadora, como o de Paulo Moreira, então R.H. da GM. Seu testemunho sobre como se deu a repressão após a greve, concedido à Comissão da Verdade dos Metalúrgicos, foi exibido durante o ato e indignou os participantes.
Após a greve, teve início um período de caça às bruxas na fábrica com mais de 400 trabalhadores demitidos e 33 processados criminalmente. A perseguição pela ditadura e pela empresa marcou para sempre a vida desses trabalhadores, que tiveram seus nomes incluídos nas chamadas “listas sujas” e amargaram anos de desemprego.
Para Hiena, um dos demitidos por participar da greve, a luta pela redução da jornada – uma das reivindicações dos trabalhadores - nunca foi fácil em todo mundo. “Esta sempre foi uma luta sangrenta”, lembrou o ex-metalúrgico.
Contar a história
Os participantes do ato também falaram sobre a importância de contar essa história para as novas gerações.
“Em função da ditadura, a cidade de São José dos Campos não conhece sua história vivida naquele período. Por isso, eventos como este são muito importantes para trazer a público os fatos que marcaram nossa história”, avaliou Moacyr.
O presidente do Sindicato na época, José Luiz, também compareceu ao evento. Para ele, a greve de 85 na GM mudou a região e deve ser lembrada neste novo momento político que vivemos no país.
Para o ex-presidente do Sindicato e coordenador da Comissão da Verdade dos Metalúrgicos, Luiz Carlos Prates, o Mancha, aquela greve não foi apenas contra a exploração, mas também foi parte da luta da classe operária contra a ditadura no país. “Após a paralisação, a intenção da GM naquele momento era acabar com o Sindicato, mas eles não conseguiram”, afirmou.
“O Sindicato manterá viva essa história de luta, que permanece atual diante dos novos ataques da montadora e dos governos”, finalizou.